“Privatizem a gestão da Caixa” de Pedro Santos Guerreiro (Jornal de Negócios)
José de Matos não é Luís de Matos, não faz ilusionismo. Estes prejuízos limpam anos de sarcófagos. Não há fábula, agora é o príncipe que, beijado, se transforma em sapo. E assim se percebe que esta administração pôs cá fora o que pelo menos duas administrações andaram a fazer ou a esconder. Os valores de provisões e de imparidades (1,6 mil milhões de euros!) são como confissões de crimes que prescreveram: não comprometem esta administração (embora comprometam alguns dos seus administradores).
Ouvir José de Matos dizer que “a Caixa vai concentrar-se na actividade bancária” revela um ridículo inteiro. É como ouvir um hotel dizer que vai dedicar-se à hotelaria ou uma pedreira às pedras. Para trás estão investimentos ruinosos na diversificação (por exemplo na saúde), na internacionalização (em Espanha), em participações financeiras (a lista é interminável), em empréstimos sem garantias, a famosos, a amigos do Governo e a financiadores de partidos. As imparidades “esmagaram os resultados”, diz Matos. É verdade. Mas as imparidades não são meteoritos inexplicáveis que caem do céu. Eles nasceram da terra onde se semearam jogatanas de poder. Com o BCP à cabeça, no que se tornou um “arrastão” maior de falhados e de quem os financiou: incluindo nós, sem o sabermos.
“A Caixa de Pandora” de António Costa (Diário Económico)
Faria de Oliveira foi instrumental, ou deixou-se ser, por um poder político que utilizou a Caixa para servir-se e não para servir. Os presidentes da Caixa não são os principais responsáveis, terão sido, até, os últimos defensores, até ao limite do possível. Mas o poder político ganhou sempre, ou quase sempre, claro, com a desculpa que era necessário proteger os centros de decisão nacional. E alguns terão sido mesmo isso, mas misturados com muitos (negócios) que nada justificava, a não ser a proteção de grupos falidos e a perpetuação de empresários sem capital a controlar empresas de bandeira. De todos os sectores
Não deixa de ser curioso que a justificação – mais ruidosa – para os prejuízos de 488 milhões de euros terão sido as imparidades resultantes das participações na PT, BCP e Zon. Não é verdade, e basta analisar as imparidades de crédito – mais de 800 milhões – para perceber que a Caixa andou a financiar quem não devia, e o que não devia. Além disso, fica claro que não cabe ao banco público alinhar em estratégias supostamente nacionais para entrar em empresas como a PT, BCP e Zon.
Privatize-se a Caixa Geral de Depósitos. Ou julgam que transformar aquilo num “banco de fomento” vai resolver alguma coisa?
Apraz-me também registar que que os socialistas tenham agora acordado para o problema da politização da CGD. Demoraram quinze anitos mas chegaram lá. Pena que também não se tenha insurgido quando há uns meses o governo do PS transformou as seguradoras da Caixa num “saco azul”.
Num artigo de opinião no Diário Económico, Pedro Carvalho lista vários dos usos indevidos a que o poder político tem submetido a Caixa Geral de Depósitos ao longo dos últimos anos (teria sido interessante quantificar o custo para os contribuintes através de aumentos de capital). Ainda assim termina esperançoso que seja possível mantê-la como banco público e “esvaziar a Caixa de todo o tipo de instrumentalização e lóbis e transforma-la num autêntico banco de fomento e com os recursos canalizados para as empresas e sectores que mais podem contribuir para as exportações e para o crescimento económico“. Santa ingenuidade. Eu recomendava-lhe a leitura da primeira parte deste artigo para ele perder a ilusão que exista alguma possibilidade de o poder político usar a CGD de forma benigna e desinteressada.